Prognóstico de pacientes com câncer de mama com baixa positividade de receptores hormonais: análise
Schrodi S, Braun M, Andrulat A, et al.
Ann Oncol 2021; 32:1410-24
Resumo e comentários:
Alfredo Carlos S. D. Barros
Heloísa Helena Rengel Gonçalves
ASCO e CAP recomendaram em 2010 que o nível mínimo para considerar como positividade para receptores hormonais (RH) é de 1%. Embora isto tenha sido aceito como base para receitar hormonioterapia, existe preocupação prognóstica e terapêutica com os casos com RH+ em baixa porcentagem de células, entre 1 e 10. Em 2020 estas Sociedades definiram a categoria de receptores de estrogênio (RE) positivo baixa, com coloração de 1 a 10% das células.
Método
Neste estudo, baseado no Registro de Câncer da Bavária, foram comparadas características clínicopatológicas e desfechos de 3 grupos de pacientes com câncer de mama (CM): RH negativo, RH positivo baixo e RH positivo alto. De maneira resumida pode-se dizer que os casos foram classificados em RH negativos, quando RE e RP foram zero; positivos fracos quando RE e/ou RP ficaram entre 1 e 9%; e positivos fortes com coloração de 10 a 100% das células para RE e/ou RP.
Resultados
A casuística total foi de 38.560 pacientes (2004-2018): 4862 (13%) eram RH negativos, 861 (2%) positivos fracos e 32.837 (85%) positivos fortes.
Características clínicas e tumorais, como grau histológico, tamanho, histologia e status de HER2 foram muito semelhantes entre RH negativos e RH positivos fracos, enquanto que diferenças acentuadas foram notadas entre RH positivos fracos e fortes. Positivos fortes associaram-se à idade maior, grau I, menos HER2 superexpressos e maior proporção de histologia lobular.
O seguimento mediano foi de 71 meses.
Nos casos HER2- as curvas de tempo até recidiva local foram idênticas nos grupos RH- e RH+ baixo, mas bem diferentes e melhores nas pacientes com RH+ alto. A incidência de recidiva local em 10 anos foi de 6,9% em RH+ alto, 13,3% no RH+ baixo e 14,0% no RH negativo. Nas pacientes HER2+ as diferenças não foram significantes: 9,5%, 10,5% e 10,8% respectivamente.
Em termos de sobrevida global nos HER2- as taxas foram, 75% no RH+ alto, 65% no RH+ baixo e 66% no RH-. Nos HER2+ não houve diferença: 74%, 73% e 72%, respectivamente.
Discussão
Os autores defendem a proposta ASCO/CAP de 2020, criando o subgrupo ER low. Porém, comentam que nesta denominação americana, um pouco diferente da aqui utilizada, não se considera RP, só RE.
Frisam a importância desta classificação principalmente nos HER2-, quando os tumores de RH baixos devem ser considerados como triplo-negativos para efeito de prognóstico e de orientação terapêutica.
Comentários
Alfredo Carlos S. D. Barros
Estudos com assinaturas de expressão gênica mostraram que de 5 até 30% dos tumores RE+ e HER2-, não são luminais (A, B), e sim basal-like ou HER2 superexpressor. Estes casos têm pequena dependência hormonal, menor taxa de resposta à hormonioterapia com e sem inibidores de CDK, prognóstico inferior e maior probabilidade de quimiossensibilidade.
Sob o ponto de vista prático, seria muito importante reconhecer estes casos, especialmente com método que fosse rápido, confortável e econômico. Por ora, pensamos que a assinatura PAM 50 seja na teoria a melhor opção, mas não tem baixo custo e seus resultados não saem tão rapidamente.
Na prática, vale a pena conhecer e considerar o escore imuno-histoquímico NOLUS, variável contínua de 0 a 100, que considera RE, RP e Ki 67 em função de porcentagem de células coradas.
Escore NOLUS = -0,45 RE% - 0,28 RP% + 0,27 Ki 67% + 73
Cut off: NOLUS positivo ≥ 51,38 e NOLUS negativo < 51,38
Taxas de tumores não-luminais |
| % |
NOLUS positivo | 76,9 |
NOLUS negativo | 2,6 |
Comparando-se com a assinatura PAM 50, para carcinomas HER2 a sensibilidade e a especificidade do escore NOLUS foram de 42,8 e 96,0% respectivamente; para carcinomas basal-like, 53,9 e 99,0%, respectivamente.
Leitura complementar sugerida
- Landman A, Farrugia DJ, Zhu L, et al. Low estrogen receptor positive breast cancer and neoadjuvant chemotherapy. Am J Clin Pathol 2018; 150:34-42.
- Cejalvo JM, Pascual T, Fernandez-Martinez A, et al. Clinical implications of the non-luminal intrinsic subtypes in hormone receptor-positive breast cancer. Cancer Treat Rev 2018; 67:63-70.
- Pascual T, Martin M, Fernandez-Martinez A, et al. A pathology-based combined modal to identify PAM50 non-luminal intrinsic disease in hormone receptor-positive HER2-negative breast cancer. Front Oncol 2019; 9:303.