Kil WH, Lee JE, Nam SJ.
J Breast Cancer 2014; 17:244-9
Comentários: Alfredo Carlos S. D. Barros
Introdução
O arco axillar (também conhecido como arco de Langer ou músculo axilo peitoral), é um músculo anômalo que às vezes pode ser encontrado na axila. É um músculo fino, que se estende da face anterior do músculo grande dorsal ao peitoral menor, até à aponeurose posterior do peitoral maior, na sua inserção umeral.
Nas pacientes que apresentam este músculo, tanto pode ser menor a taxa de marcação do linfonodo sentinela (LS), como ocorrer dificuldade técnica na sua biópsia a céu aberto.
Objetivo
Este trabalho teve como objetivo avaliar a frequência do músculo arco axilar em pacientes que se submeteram à biópsia de linfonodo sentinela (BLS), e se o mesmo interfere na taxa de identificação do LS.
Métodos
Três cirurgiões experientes realizaram 1069 BLS em um hospital da Coréia do Sul, valendo-se da marcação por isótopo tecnécio (31,3%), por corante vital indigo carmin (22,0%) ou pelos dois métodos (46,7%). A injeção do marcador foi sempre retroareolar.
O arco axilar foi procurado cuidadosamente em cada cirurgia e a falha de identificação do LS foi definida quando os cirurgiões não conseguiram detectá-lo intraoperatoriamente.
Resultados
Foram 793 cirurgias conservadoras e 276 mastectomias. A taxa de sucesso na BLS foi de 97,8%, sendo que 23,7% dos mesmos estavam infiltrados.
O músculo arco axilar foi encontrado em 79 axilas (7,4%).
Falha de identificação do LS ocorreu em 24 casos (2,2%). A presença do arco axilar (p < 0,001) e IMC ≥ 25 Kg/m2 (p: 0,02) estiveram significativamente associados com a falha.
A tabela abaixo demonstra a associação do arco axilar com a falha da BLS.
Viu-se que a HR para falha de BLS havendo arco axilar foi de 10,96 (IC 95% 4,42 - 27,21).
Interessante foi notar que em 46 (66,6%) dos 69 casos com arco axilar e que tiveram BLS com sucesso, o LS estava acima ou atrás deste músculo anômalo, em 13 (18,8%) estava abaixo, e em 10 (14,4%) estava nestes dois espaços.
LD: latissimus dorsi, AA: arco axilar, PM: pectoralis major
Discussão
A presença do músculo arco axilar é responsável pela falha na identificação de LS e provoca dificuldade técnica na sua biópsia, por dificultar o reconhecimento dos limites anatômicos musculares da axila. Neste estudo, o tempo médio para se fazer a BLS foi de 12,5 min, o qual foi aumentado para 20,8 min, quando existia o músculo anômalo, e o número médio de linfonodos removidos foi de 2,4 e 1,7, respectivamente.
Conclusão
A presença do músculo arco axilar na axila é causa de falha na BLS, e quando ele é visto na cirurgia, deve-se procurar cautelosamente o LS, geralmente localizado acima ou atrás do mesmo.
Comentários
Alfredo Carlos S. D. Barros
O trabalho é interessante. O tema do músculo arco axilar (músculo de Langer) é pouco enfocado na literatura e, como visto, tem importância prática da BLS. O músculo, quando presente, tem formato fusiforme, mede de 3 a 6 cm de comprimento e 1 a 2 cm de largura. Cruza verticalmente a axila e dificulta a abordagem da veia axilar na sua punção lateral, e a remoção dos linfonodos de nível I, umerais e subescapulares.
Pessoalmente, quando identifico este músculo durante a dissecção axilar, costumo seccioná-lo ao meio com bisturi elétrico, para facilitar a BLS. Quando não acho o LS, faço uma amostragem linfonodal de nível I.
Leitura suplementar
- Bakirci S, Kafa IM, Vysal M, Sendemir E. Langer’s axillary arch (axillopectoral muscle): a variation of latissimus dorsi muscle. Int J Anat Var 2010; 3: 91-2.
- Natsis K, Vlasis K, Totlis T, et al. Abnormal muscles that may affect axillary lymphadenectomy: surgical anatomy. Breast Cancer Res Treat 2010; 120: 77-82.